7. O que é pensamento pós-metafísico

4. Os pressupostos teóricos da TAC no seio da filosofia da linguagem

Na segunda parte de Pensamento Pós-Metafísico, Habermas explica o que é a linguagem na perspectiva do pragmatismo, expõe de modo mais nítido a diferença entre ação comunicativa e ação estratégica, e esclarece seu conceito de mundo da vida. Trata-se, portanto, de um texto básico para compreender o fulcro de sua filosofia.

Parte da distinção entre agir e falar, no primeiro caso o exemplo é alguém correndo, fixando um prego na parede, dirigindo um carro, todas elas ações orientadas para certo fim; no segundo caso, temos os atos de fala, como ordens, confissões, constatações pelos quais um falante pretende chegar a entendimento com outro sobre algo no mundo.

O observador da interação lingüística entre F e O, pode descrever o ato de alguém correr sob a forma de uma proposição, "ele corre na rua". Mas não pode inferir se fulano corre porque tem pressa, ou se é um ladrão fugindo da perseguição policial, ou algo semelhante. Já na perspectiva do participante de um ato de fala, basta perguntar àquela pessoa o motivo da corrida. Sendo os atos de fala auto-referenciais, eles se explicam por si sós. Austin mostrou como o componente ilocucionário realiza um tipo de comentário pragmático, ao dizer, executa-se uma ação (afirmação, ordem, etc.). F enuncia a ação e O pode compreendê-lo. E mais, o ato ilocucionário vai além da compreensão do significado, sua finalidade é o entendimento, "depende do assentimento racionalmente motivado" (1990c, p. 68) de O, e ambos reconhecem suas respectivas pretensões de validez criticáveis (ver capítulo 3).

Tanto para os participantes de um diálogo como para o observador da cena, há um saber proposicional, isto é, um conteúdo de fala: algo é dito e compreendido. Para o observador o ato é teleológico, entre os falantes o ato é comunicativo, pode chegar a consenso, unifica propósitos, não há pressão externa. Embora ligados pelas interações lingüísticas (falar e agir estão conectados), a racionalidade difere radicalmente, pois a ação estratégica se pauta pela situação externa à linguagem, pela influência entre os sujeitos que precisam orientar sua atividade de modo eficiente, sem necessidade de recorrer aos laços propriamente lingüísticos; na ação comunicativa a única força a coordenar a ação é a ilocucionária. Ego e Alterego, ou seja, os falantes na posição de F e de O, coordenam seus planos de ação, acertados pela linguagem. Na ação estratégica a linguagem funciona como meio de informação, um age sobre a ação do outro, há pretensões de poder. Na ação comunicativa, eles precisam entrar em acordo entre si, o que exclui ameaça, sugestão, engano, enfim, tudo o que perturbar a força ilocucionária, o esforço cooperativo decorrente do solo comum e das interpretações comuns (mundo da vida). O uso de argumento garante que ambos compartilham pressupostos de validez, portanto, um pode "cobrar" do outro o não cumprimento de uma promessa, contestar uma ordem num contexto livre de hierarquia, exigir que uma afirmação tenha consistência, etc. Os atos de fala repercutem na seqüência da ação, alcançam "sucesso ilocucionário".

Os efeitos propositais ou não que certos atos de fala provocam como ameaçar, impor, exigir, são de natureza perlocucionária. Se um efeito perlocucionário (obter dinheiro com ameaça) for obtido pela compreensão de um ato de fala, o agir estratégico é latente, e se a atividade teleológica prosseguir, então a compreensão inerente à ação comunicativa fica de fora. É preciso que ambos voltem a assumir uma atitude performativa de entendimento sobre a situação, que eles voltem a negociar, a defender seus pontos de vista para passar do agir estratégico ao agir comunicativo. Em suma, o agir comunicativo demanda "critérios públicos da racionalidade do entendimento" (1990c, p. 82). O agir estratégico impõe os interesses de cada um.