7. O que é pensamento pós-metafísico

3. A TAC e a guinada pragmática

As filosofias do sujeito não têm como resolver o problema da autoconsciência. Elas exigem conhecer a consciência, para tal há dois pólos, o do sujeito e o do objeto. Ao objetivar a consciência, esta perde seu caráter de consciência subjetiva. Para sair desse paradoxo, deve-se substituir o paradigma da consciência pelo paradigma da linguagem. Para Frege a estrutura proposicional "formata" os estados de coisa pensados e enunciados. Kant, Darwin, Freud, Piaget, Saussure, cada um a seu modo, também mostram que a consciência não é constitutiva, originária e nem incondicional. Antes da consciência objetivadora, há formas a priori (Kant), há a vida (Darwin), o inconsciente (Freud), a ação (Piaget) e a linguagem (Saussure). A guinada lingüística surge dessas propostas. Desde o século XIX a linguagem é vista como instrumento de comunicação e não mais como simples tradução do pensamento representativo. Pensar e representar depende de expressões gramaticais, que não têm origem na consciência, uma vez que elas são públicas, são estruturadas. A proposição refere-se a algo no mundo, afirma, assere um estado de coisa, por isso tem sentido. O problema é que essa semântica formal, ou semântica por condição de verdade limita-se à abordagem científica, empírica.

Restrita à análise semanticista, a linguagem perde a autoreferencialidade própria a todo ato de fala. Wittgenstein com a noção de jogos de linguagem e Austin com a noção de atos de fala mostraram que a estrutura proposicional e performativa não decorre do aspecto formal, de regras semânticas, e sim de num componente pragmático. O processo de entendimento, de formação de consenso, demanda além do emprego de expressões com significado idêntico, que certas idealizações, as pretensões de validez, se realizem. Os falantes não reproduzem expressões da língua, eles as usam em situação. As posições de "eu", "tu", "ele", a subjetividade, surgem nas situações corriqueiras da troca lingüística e não do sujeito como fonte de representações de um lado, e o mundo com coisas a serem representadas de outro lado. Dissolve-se a razão centrada no logos (logocêntrica) que impõe um modo exclusivo de conhecer pela representação ou constatação de estados de coisa. Após a guinada pragmática, a razão é vista como situada, ela implica questões de gosto, justiça, autodeterminação. A racionalidade comunicativa leva em conta não só a verdade proposicional, como também a correção normativa e autenticidade subjetiva. Esse é um ponto crucial da TAC, entendê-lo é básico para entender porque a filosofia perde sua função salvífica, de totalização, e adota o papel de intérprete das distorções ou deformações do mundo da vida. No contexto pós-metafísico, a filosofia faz parte do cotidiano das pessoas, pode guiar os processos de normalização no terreno prático-moral e de integração no terreno social.