METODOLOGIA
4.1. Caracterização da pesquisa
Este estudo faz parte de uma pesquisa maior e se caracteriza por ser do tipo pré-experimental de grupo único, com avaliações pré e pós-teste.
4.2. População e amostra
O universo da pesquisa é representado pelos operadores de caixa de supermercado da cidade de Natal – RN. O processo de seleção do grupo amostral foi por contingência, de acordo com a anuência de participação dos trabalhadores de uma rede de supermercados colaboradora, que conta com um total de 6 (seis) lojas.
O estudo contou com um total de 30 (trinta) operadores que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, mediante a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram incluídos aqueles que respeitaram os seguintes critérios: participar de pelo menos 70% do número total de intervenções; trabalhar no turno diurno, e estar na função a pelo menos 1 (um) ano. Foram excluídos aqueles que não participaram da intervenção por três vezes consecutivas ou que gozaram de férias no período de intervenção. De acordo com os critérios descritos apenas 9 (nove) indivíduos foram utilizados para análises.
4.3. Instrumentos
Foi elaborado um termo por meio de um ofício emitido pela coordenação do projeto, que faz parte do Curso de Fisioterapia da UFRN, para ser entregue à diretoria geral das empresas, solicitando a realização da pesquisa (anexo 1). Um termo de consentimento de participação da pesquisa elaborado de acordo com os requisitos da resolução CNS 196/96 e suas Complementares foi entregue a cada participante da pesquisa, antes de iniciar qualquer procedimento da pesquisa (anexo 2).
Para a realização das fotos dos participantes durante as intervenções e posterior divulgação, foi entregue uma declaração de uso de imagem a qual foi assinada pelos voluntários que estavam de acordo com os termos descritos (anexo 3).
Para investigação do perfil epidemiológico da amostra foi utilizado um inventário de identificação geral, elaborado pelos pesquisadores e validado através de um estudo piloto (Anexo 4). Este contém questões de identificação; outras relacionadas ao trabalho, e questões relacionadas à condição geral de saúde.
O Questionário do Estresse Percebido de Levenstein - QEPL, validado para língua portuguesa por Costa e Costa (2004), foi utilizado para avaliar o nível de estresse percebido. Este questionário é composto por 30 questões objetivas (LEVENSTEIN et al, 1993). O mesmo pode ser aplicado na forma Geral ou Recente, mantendo o mesmo formato, sendo alteradas apenas as instruções para o seu preenchimento, onde na forma Geral o sujeito faz referência ao seu último ano ou os últimos dois anos, e na forma Recente ao seu último mês. No presente estudo foi utilizada a versão Recente deste questionário (anexo 5).
Para responder a este questionário, existe uma escala do tipo Likert de quatro pontos: “quase nunca”, “algumas vezes”, “muitas vezes” e “quase sempre”. Um número é atribuído a cada célula e reflete a direção da atitude do respondente em relação a cada afirmação proposta.
Para avaliar de maneira qualitativa e quantitativa a percepção de desconforto corporal, foi utilizado o questionário adaptado de Zabel e McGrew (1997), o qual permite a discriminação do desconforto corporal em oito itens (dor, fadiga, queimação, formigamento, fraqueza, dormência, sensação de peso e outros); da sensibilidade em uma escala categórica e numérica, sendo ausente (zero), perceptível (1, 2 e 3), moderada (4, 5 e 6), severa (7 e 8) e insuportável (9 e 10), e a(s) região(ões) corporal(is) acometida(s) (anexo 6).
A fim de avaliar a qualidade de vida, foi aplicado o questionário Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36). O MOS SF-36 (anexo 7) é um instrumento multidimensional, formado por 36 itens que avaliam as seguintes dimensões: capacidade funcional (desempenho nas atividades da vida diária – AVD´s – 4 itens); aspectos físicos (impacto da saúde física na realização das AVD´s – 10 itens); dor (relacionando o impacto desta com a realização das AVD´s – 2 itens); estado geral de saúde (percepção subjetiva do estado geral da própria saúde – 5 itens); vitalidade (percepção subjetiva do estado de saúde – 4 itens); aspectos sociais (reflexo do impacto da condição de saúde nas atividades sociais – 2 itens); aspectos emocionais (reflexo do estado emocional na realização das AVD´s – 3 itens); e saúde mental (escala de humor e bem-estar – 5 itens) e há um item único sobre percepção de alteração de saúde nos últimos 12 meses (Mudança de Saúde). Seu escore varia de 0 a 100, onde o 0 corresponde ao pior estado geral de saúde e 100 ao melhor estado (WARE, 1997 apud MENESES, 2002; CICONELLI et al, 1999; CASTRO et al, 2003).
4.4. Materiais
Foram requeridos, em cada uma das lojas:
- 1 (uma) sala climatizada com espaço suficiente para o número de seus participantes para a aplicação da técnica;
- 40 colchonetes (cedidos pela empresa para a utilização no estudo);
- Cópias dos questionários de avaliação;
- 12 (doze) bolas pequenas de borracha da marca Mercur;
- 1 câmera fotográfica digital Canon A-200.
4.5. Procedimentos
Inicialmente, foi elaborado um termo por meio de um ofício que foi entregue à diretoria geral da empresa, solicitando a realização da pesquisa (anexo 1), o qual foi devidamente aprovado pela mesma.
O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFRN, sob o parecer nº 021-2005, tendo sido iniciada a intervenção logo após esse resultado.
O treinamento da técnica de relaxamento eutonia ocorreu, inicialmente, em uma das salas do Departamento de Fisioterapia da UFRN, e posteriormente numa sala do Núcleo de Yoga da mesma instituição, nas quais os pesquisadores foram submetidos à técnica de eutonia acompanhado por orientações posteriores por professoras, idoneamente capacitadas. Os pesquisadores fizeram, como parte do treinamento, a aplicação da técnica em voluntários do “Grupo de Pesquisa em Estresse Ocupacional e Variações na Percepção do Desconforto Corporal” do curso de Fisioterapia sob orientação, para dirimir dúvidas e padronizar procedimentos.
Após reunião feita com os pesquisadores, gerentes das lojas e a gerência de Recursos Humanos da empresa, foi realizada uma avaliação estrutural e de dinâmica de funcionamento das seis lojas, a fim de verificar a viabilidade destas para a participação da pesquisa. Foi realizada uma avaliação estrutural e de dinâmica de funcionamento das seis lojas, a fim de verificar a viabilidade destas para a participação da pesquisa. Nesta avaliação, foi constatado que uma loja não dispunha de uma sala climatizada com espaço adequado para a realização das intervenções, enquanto as outras cinco lojas permitiam o uso da sala de reunião, viabilizando a prática.
Antes de iniciar as atividades práticas foi realizada uma reunião com os funcionários do turno matutino, na sala de reunião em cada uma dessas lojas, após o período de trabalho a fim de tornar públicos os objetivos e a dinâmica da pesquisa. Na mesma ocasião foi recolhida a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido pelos funcionários que aceitaram participar da pesquisa voluntariamente, e foi dado início à primeira avaliação com a aplicação dos seguintes instrumentos: inventário de identificação geral, QEPL, questionário adaptado de Zabel e McGrew e MOS SF - 36.
Todas as visitas às lojas foram previamente agendadas com a administração das mesmas. As intervenções foram efetuadas uma vez por semana obedecendo a um intervalo mínimo de 5 (cinco) dias, com duração média de 20 a 30 minutos cada, por no mínimo 2 (dois) meses e meio, totalizando 10 (dez) práticas. Alguns estudos, como os de Kabat-zin, Lipworth e Burney (1985) e o de Blanchard et al (1982) apud Carlson e Stoyva (1993), revelam que com o mesmo tempo de prática do estudo atual, o uso da técnica de relaxamento apresenta resultados significativos na redução de dores crônicas.
Durante as intervenções, os participantes foram solicitados a permanecerem deitados ou sentados confortavelmente (de acordo com a prática), retirarem acessórios que causem algum desconforto e a ajustarem suas vestimentas a fim de contribuir para o melhor aproveitamento da técnica. Em seguida, os pesquisadores davam início à técnica propriamente dita que consiste numa série de comandos verbais os quais vão possibilitando o relaxamento e o autoconhecimento dos voluntários.
A técnica de relaxamento, assim como cada avaliação, foi realizada pelos próprios pesquisadores, devidamente treinados para cada etapa. Os pesquisadores (aplicadores da técnica) fizeram um revezamento entre as lojas, de forma que cada loja não recebeu por duas semanas consecutivas o mesmo aplicador; a fim de minimizar as diferenças interaplicador. A seqüência de práticas foi previamente definida observando os princípios da eutonia e a complexidade das atividades, partindo-se das atividades de menor mobilidade para as de maior mobilidade.
As práticas, com exceção da final, observaram uma dinâmica comum na atividade inicial envolvendo comandos dirigidos a um inventário, atividade principal, estiramentos e relato final voluntário dos participantes. A seguir encontra-se a seqüência de atividades feitas:
- A primeira prática objetivou a percepção consciente das diferentes partes do corpo (ossos, músculos e vísceras), bem como a observação do ritmo respiratório próprio. Com os praticantes em repouso na posição deitada em decúbito dorsal, foi dado seqüência aos comandos a partir dos dedos dos pés ascendendo até cabeça e face (anexo 8).
- A segunda e terceira práticas objetivaram a percepção das partes do corpo palpáveis, a partir do próprio tato, e dos movimentos articulares. A 2ª enfatizou os membros inferiores, pelve e abdômen, e a 3ª os membros superiores, pescoço, face, além da percepção dos diferentes movimentos das principais articulações (anexos 9 e 10, respectivamente).
- A quarta visou a percepção da diferença entre o estado de contração e o de repouso dos principais músculos de todos os segmentos corporais e membros, com mobilização dos joelhos, coluna lombar, punhos, cotovelos, ombros e cabeça (anexo 11).
- A quinta enfatizou a observação do estado muscular (encurtamento/estiramento) em determinadas posturas para posições de controle (ver figuras abaixo) (anexo 12).
- A sexta permitiu uma continuidade do que foi proposto na intervenção anterior (anexo 13), evoluindo para posições mais elaboradas. Foram repetidas as posições de controle anteriores (figuras 1, 2, 3 e 4) e realizadas as posições das figuras 5, a fim de permanecer na postura ereta sentada, e 6 adaptada (sem cruzar as pernas uma sobre a outra) para cada lado.
- Na sétima, após observar-se maior confiança e conhecimento entre os participantes, desenvolve-se posições de controle de maior complexidade, em duplas (anexo 14). Todos os movimentos e/ou posições foram realizados com alternância entre as duplas (figuras 7 a 15).
- A oitava prática visou a realização de movimentos de controle (figuras 16 a 18). Foi solicitado aos participantes que percebessem o estiramento muscular, tônus, força e outros aspectos envolvidos com os princípios da eutonia (anexo 15).
- Na nona intervenção foram realizados “exercícios de contato”, com utilização de uma bolinha de borracha sob as diversas regiões corporais, momento em que os praticantes, em decúbito dorsal, observavam a pressão e o estado muscular nos diferentes contatos com a bola de borracha utilizada para cada um. Os comandos foram dados orientando a colocação da bola sob as regiões trabalhadas (panturrilha, parte posterior das coxas, nádegas, coluna lombar, coluna torácica baixa e alta, na região do músculo trapézio, ombros e pescoço) (Anexo 16), como demonstrado nas figuras 19, 20 e 21 (adaptado – utilização da bola no lugar do bastão).
- Na décima prática objetivou-se a ampliação do tato pela percepção da palpação de diferentes partes do corpo, feita por no máximo oito aplicadores simultaneamente e observando as orientações orais dos pesquisadores (Anexo 17).
O QEPL, o questionário adaptado de Zabel e McGrew e o MOS SF – 36 foram reaplicados após a décima intervenção, porém em dia distinto da última atividade prática.
Durante o período de intervenção, 2 (duas) das 5 (cinco) lojas que iniciaram a pesquisa apresentaram problemas em relação a continuidade das práticas no prazo pré-determinado, sendo então excluídas da amostra.
4.6. Análise dos dados
Os dados coletados foram analisados através do programa estatístico Statistica 6.0 e submetidos ao procedimento não-paramétrico Wilcoxon Matched Pairs Test em virtude do número da amostra. Este é um teste de observações pareadas utilizado para revelar a significância estatística dos dados colhidos.
Entre as variáveis estresse percebido e qualidade de vida foram realizadas regressões simples e múltiplas. O procedimento Backward Stepwise foi utilizado para a seleção das variáveis independentes (qualidade de vida) da regressão múltipla, as quais não podem apresentar relação significativa com a variável dependente (estresse percebido) e nem correlação entre si. Após essa seleção, as variáveis foram submetidas a um teste de regressão a fim de indicar o nível da correlação do conjunto das variáveis da regressão múltipla, podendo indicar o nível de predição para cada relação estabelecida entre as análises dependendo do nível de correlação obtido. Porém estes resultados não são apresentados neste trabalho devido ao pequeno tamanho amostral e inconsistência dos resultados, mas que merece atenção em estudos futuros.
Os resultados obtidos foram encaminhados à administração da rede de supermercado com as possíveis sugestões de aprimoramento da política da empresa quanto à saúde de seus trabalhadores.