Apresentação

Esse trabalho é fruto de um projeto de pesquisa realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN/Brasil, no Departamento de Psicologia do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Trata-se de uma investigação por mim (1) coordenada e que articulou diversos sub-projetos de alunos do curso de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia/PPGPsi, durante o período de 2003 a 2005. Nesse sentido teve a colaboração direta de bolsistas de Iniciação Científica (2) e de mestrando do PPGPsi. Além disso, contou com a cooperação financeira no CNPq e da Cátedra Iberoamericana de la Universitat de les Illes Baleares/Espanha, ajuda imprescindível à realização do projeto.

O trabalho de investigação possibilitou a realização de inúmeras atividades no âmbito acadêmico, dentre as quais se situam: a orientação de quatro alunas de iniciação científica, uma orientação de Mestrado; uma orientação de pesquisador-jovem em parceria com escolas públicas de nível fundamental do Estado; a publicação de um artigo em periódico científico indexado e a apresentação de 21 trabalhos em eventos científicos locais, nacionais e internacionais, com respectivos resumos publicados em anais.

A preocupação com a temática do suporte social voltado para crianças, adolescentes e jovens tem origem no fato de que no Brasil, programas sociais destinados à população infanto-juvenil pobre, normalmente, priorizam seus problemas e deficiências, atingindo tais populações quando já se encontram em situação de difícil reversão. O crescimento da violência no país vem alcançando cifras alarmantes entre os jovens, pois são eles os que mais morrem e matam. Esses têm constituído a população mais vulnerável em termos de políticas públicas voltadas especificamente para os problemas vivenciados nessa etapa de vida. As mortes por causas externas, por exemplo, têm sido um indicador importante da vulnerabilidade juvenil, principalmente os homicídios.

São quase 15 mil jovens situados na faixa dos 15 aos 24 anos mortos por ano, distribuídos desigualmente em relação à região do país, sexo, cor e renda. Homem, negro, solteiro e jovem compõe o grupo que apresenta as maiores taxas de vitimização por homicídio (137,8 por 100 mil habitantes). A complexidade dos fatores determinantes da violência é muito ampla. Estudos indicam que a mortalidade de jovens por causas violentas não está necessariamente atrelada às formas mais acentuadas de exclusão social e econômica. Entretanto, é indiscutível o fato que a desigualdade social e o não acesso a bens e equipamentos sociais de lazer, cultura e esporte, constitui um elemento importante na explosão da violência.

Na década de 90, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA, surgem propostas que objetivam transformar os modelos caracterizados pela centralidade das ações, assistencialismo e repressão. Tais propostas estão ancoradas na concepção de que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos que necessitam de cuidados e oportunidades para o seu pleno desenvolvimento. Nessa mesma década, começam a florescer pesquisas no mundo inteiro sobre Bases de Apoio familiares e comunitárias e seu papel no desenvolvimento das capacidades física, cognitiva, social e afetiva de jovens e crianças. As Bases de Apoio são os recursos familiares e comunitários que oferecem segurança física e afetiva a crianças e jovens. Referem-se tanto a atividades ou organizações formais (creches, escolas, programas religiosos, clubes, centros juvenis), quanto a formas de apoio espontâneas ou informais (redes de amizade e solidariedade, relações afetivas significativas na vida de crianças e jovens disponíveis na comunidade). Parte-se do pressuposto de que os elos estabelecidos entre crianças/adolescentes e sua família e comunidade são vitais e devem ser levados em conta na elaboração de políticas e programas sociais.

Estudos vêm apontando que são esses recursos familiares e comunitários disponíveis em uma comunidade que se apresentam como fontes prioritárias de suporte social. Com base nisso buscou-se desenvolver uma pesquisa objetivando mapear as bases de apoio familiares e comunitárias para adolescentes e jovens em uma região da cidade de Natal, cidade do nordeste brasileiro, a saber, o Distrito Sanitário Oeste, mais especificamente o bairro de Bom Pastor.

Considera-se que conhecer essas bases é imprescindível porque elas são parte orgânica e vital das comunidades. Isso demonstra que as mesmas se organizam para a resolução de seus problemas e que elas, melhor que ninguém, sabem quais são. Fortalecer as bases de apoio e as redes de ajuda e solidariedade locais é muito mais barato e eficaz do que criar soluções artificiais e verticais, criadas sem ouvir a comunidade, sua experiência e seu saber. Além disso, é uma estratégia privilegiada de enfrentamento à violência presente no cotidiano dessas comunidades.