4.6. Saúde
Grande parte dos entrevistados (57,85%) declarou não haver hospital em seu bairro, sendo que a maioria conta apenas com um posto de saúde (92,15%) e com os agentes de saúde (73,56%).
A maior parte dos jovens (43,98%) não procurou o serviço de saúde para seu próprio atendimento nos últimos três meses, e apenas 18,58% procuraram esse tipo de serviço apenas uma vez nesse mesmo período. Dentre os que procuraram o serviço de saúde, 9,94% afirmaram que ninguém aconselhou a procura; 8,08% indicaram a mãe como a pessoa que os aconselhou a procurar o serviço de saúde. A mãe dos adolescentes também foi a pessoa que mais os acompanhou ao serviço de saúde da ultima vez que o procuraram.
Daqueles que o fizeram, 32,64% tinham o intuito de verificar o estado geral de sua saúde, 21,9% para fazer uma consulta médica geral e 13,28% de conseguir um atestado médico. Grande parte dos entrevistados (73,82%) declarou nunca ter procurado o serviço de saúde para pedir informações sobre sexo, uso de anticoncepcionais ou sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Em caso de violência fora do ambiente familiar apenas 11,66% deles procuraram o serviço de saúde como ajuda no enfrentamento dessa situação, esse número diminui ainda mais no caso de violência ocorrida no ambiente familiar (7,38%). Pallazo, Béria, Tomasi (2003) afirmam que em pesquisa realizada por eles junto a adolescentes em uma unidade básica de saúde, os participantes quase não se referiram a assuntos de suas vidas em suas consultas médicas, se restringindo falar apenas sobre a queixa principal. A partir deste dado, eles tecem algumas considerações para a ocorrência deste fato: fatores relacionados à cultura (passividade), fatores relacionados à organização dos serviços de saúde (privilegiando apenas as práticas curativas), o pensamento baseado na crença de que é papel do médico começar um diálogo, crença de que o médico é um adulto estranho (Malus, 1987, citado por Pallazo, Béria Tomasi, 2003), o que faz dele uma pessoa não apropriada para falar sobre assuntos de foro íntimo, ficando esta função ao encargo dos pais e dos amigos (Offer et al., 1991, citado por Pallazo, Béria Tomasi, 2003).
Esses dados mostram que o serviço de saúde pública ainda é pouco procurado para a resolução de problemas referentes à violência a prevenção de DST/AIDS e assuntos sobre a saúde reprodutiva. Todos os fatores vistos acima podem ser considerados como entraves para que o serviço básico de saúde se configure como uma base de apoio formal mais efetiva ao enfrentamento de situações conflituosas do cotidiano desses jovens. Aqui foi apenas enfatizada uma dimensão desse serviço (relação médico-paciente), porém muitas outras devem ser consideradas. Dentre elas a reformulação de políticas publicas da área da saúde que favoreçam uma relação mais saudável e resolutiva entre os adolescentes e os médicos, não se tratando aqui de culpabilizar os médicos.