4.1. Perfil dos Participantes

Foram aplicados 382 questionários abaixo apresentados conforme a escolaridade:

grafico 1

 

Gráfico 1 – Escolaridade

 

Os participantes estavam assim distribuídos:

     

  1. Ensino Fundamental (56%): 5ª Série (n = 67), 6ª série (n = 53), 7ª série (n = 39), 8ª série (n = 53).
  2.  

  3. Ensino Médio (38%): 1º ano (n = 79), 2º ano (n = 41) e 3º ano (n = 26).
  4.  

  5. Educação de Jovens e Adultos (6%): EJA 3 (n = 16) e EJA 4 (n = 8)

Esses participantes estudam nos turnos vespertino e noturno, perfazendo um total de 51,69% do total de alunos dessa escola na faixa etária de 12 a 24 anos. Dos participantes, 269 possuem de 12 a 18 anos (70,38%) e 113 de 19 a 24 anos (29,62%), sendo 49% do sexo masculino (n = 187) e 51% do sexo feminino (n = 195).

A maioria dos participantes nasceu no município de Natal e reside no bairro Bom Pastor (76,17%) ou em outros bairros do Distrito Oeste. Quanto à raça, 37,43% (n = 143) declararam ser da raça branca, 18,58% (n = 71) da raça negra e 33,76% (n = 129) pertencerem à raça parda. No que diz respeito ao estado civil, 87,69% (n = 335) são solteiros, 3,66% (n = 14) são casados, 6,02% (n = 23) estão em união consensual e 1,83% (n = 7) não responderam. A maioria não tem filhos (84%).

A maior parte desses jovens, 36,12%, nunca exerceu qualquer atividade remunerada; 33,76% deles estão trabalhando atualmente e 24,08% já o fizeram em outro momento. A maior parte trabalha informalmente, sem carteira de trabalho assinada (n = 75), concentrando-se no setor terciário (46,51%). Os que trabalham atualmente e os que já trabalharam realizam as seguintes atividades remuneradas: autônomos (n = 36); atividades domésticas (n = 26); comerciários (n = 25); funcionários públicos (n = 22); prestação de serviços (n = 20); professores (n = 3); prostituição (n = 1) e jogador de futebol (n = 1).

Na categoria autônomo foram identificadas atividades tais como doceira, pedreiro, pintor, feirante, sorveteiro, artesão, etc. Este dado é relevante, pois o trabalho de jovens no mercado informal é mais freqüente em comunidades de baixa renda como a de Bom Pastor, refletindo ainda a situação geral dos trabalhadores do país. Quase a totalidade dos participantes, 90,04%, realiza ou já realizou algum tipo de trabalho doméstico. As tarefas mais citadas são: limpar a casa (69,63%), fazer compras (43,19%) e cozinhar (41,3%). Destacamos que 86,91% dos adolescentes do sexo feminino e 60,87% do sexo masculino realizam tarefas domésticas.

Podemos notar que além dessa diferença total do número de jovens do sexo masculino em relação ao número de jovens do sexo feminino que se dedicam aos trabalhos domésticos, há também uma diferença entre as atividades as quais eles se dedicam: em relação à limpeza da casa, 167 meninas fazem esse tipo de trabalho, enquanto apenas 94 meninos realizam esse tipo de atividade. Na atividade de cuidar dos irmãos, 81 meninas a executam, enquanto apenas 38 meninos realizam esse tipo de trabalho.

Quando indagados sobre a atividade de cozinhar, 110 meninas declararam realizar tal atividade em suas casas, enquanto apenas 46 meninos disseram realizar este tipo de serviço. O item "fazer compras" foi o que o número de jovens do sexo masculino (n = 71) mais se assemelhou ao número de jovens do sexo feminino (n = 89). Sobre a freqüência de trabalho em casa, 146 das jovens responderam que todos os dias se dedicam aos afazeres domésticos, enquanto que apenas 59 dos jovens o fazem com a mesma freqüência.

O Relatório de Desenvolvimento Juvenil da Unesco (2003) revela que em todo país, as jovens se dedicam mais aos afazeres domésticos tanto em número de atividade quanto em horas dedicadas. Podemos então, perceber que a situação das jovens participantes desta pesquisa é similar às das jovens do país como um todo, já que realizam mais atividades e com mais freqüência os afazeres domésticos.

As famílias dos participantes da pesquisa são compostas, em sua maioria, por 4 a 6 membros (59,24%), sendo formadas por pai, mãe e irmãos (48,69%). É importante destacar que 21,72% são chefiadas apenas por mulheres. A renda dessas famílias se configura da seguinte maneira:

     

  1. Até 01 Salário mínimo (até R$ 300,00) (4) = 24,34%
  2. De 01 a 02 Salários mínimos (até R$ 600,00) = 28,27%
  3. De 02 a 04 Salários mínimos (até R$ 1.200,00) = 22,51%
  4. Mais de 04 Salários mínimos (acima de R$ 1.200,00) = 9,42%
  5. Não informaram = 15,46%

Sabemos que o Brasil é um dos países com maior nível de concentração de renda do mundo. Dados do Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003 da Unesco (2004), revelam que se dividirmos as famílias brasileiras em dez grandes grupos de acordo com sua renda, verificaremos que o grupo de 10% das famílias com renda mais elevada concentra 43,9% da renda nacional total. Enquanto que a metade das famílias que possuem menor renda, concentram apenas 13,8% da renda total do país. Continuando a comparar esses dois grupos, podemos observar também que no grupo dos 10% de maior renda, cada membro da família percebe uma renda equivalente a 6,4 salários mínimos. Enquanto que no grupo dos 50% dos possuem as menores rendas, cada membro da família possui o equivalente a apenas 0,4 salários mínimos. Certamente, as famílias dos jovens desta pesquisa pertencem a este segundo grupo, visto que 75,12% deles têm uma renda familiar que se concentra entre menos de um a quatro salários mínimos.

É importante ressaltar ainda que essas diferenças de renda podem promover ainda mais desigualdades, já que o acesso aos serviços como os de saúde e educação se torna mais restrito. No caso da educação, por exemplo, os jovens de renda inferior possuem apenas uma média de anos de estudo 5,9 anos, enquanto que os jovens de rendas superiores possuem uma média de 10,8 anos, segundo Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003 (Unesco, 2004). Esta disparidade entre a média de anos de estudo, se dá, principalmente, pela necessidade de entrada precoce no mercado de trabalho por parte dos jovens pertencentes a famílias de baixa renda.

Ainda sobre a renda, é importante que fique claro também a posição da Região Nordeste em relação as demais regiões, no que diz respeito a renda familiar per capta (RFPC) dos jovens entre 15 e 24 anos. Segundo o mesmo relatório citado mais acima, a região nordeste possui a menor RFPC do país: 0,82 salários mínimos. Mais uma vez, notamos que situação dos jovens participantes desta pesquisa parece ser condizente com a situação geral do país e da sua região.

Quanto à moradia, 76,96% moram em casa própria e 17,27% em casa alugada. Estes dados indicam que as famílias de Bom Pastor lidam cotidianamente com a pobreza. Têm renda média de menos de 02 salários mínimos; são compostas por pessoas vinculadas informalmente no mercado de trabalho, muitas das quais são adolescentes e jovens que por sua condição financeira são obrigados a abandonar os estudos em busca de trabalho. São numerosas, de maioria negra/parda, com baixa renda e sofrem problemas financeiros.